Criança aprender melhor, o equilíbrio entre o trabalho de grupo e o trabalho individual
A aprendizagem correcta dos nossos filhos é algo que sempre nos desperta alguma preocupação. No contexto educativo, vivemos uma transição entre práticas assentes sobretudo numa aprendizagem individualizada e um modelo focado na aprendizagem em grupo, baseada na colaboração. Há vantagens inequívocas em promover a colaboração entre crianças. É fundamental para aprendermos a gerir as nossas relações com outras pessoas, para desenvolvermos as nossas capacidades argumentativas e conseguirmos explicar os nossos pontos de vista, mas também para sabermos quando ceder e como chegar a um consenso.
Para além do desenvolvimento pessoal e social implícito neste processo, está também em causa uma valiosa competência profissional: na maioria das profissões, as pessoas passam parte significativa do tempo a trabalhar com outras – aqui referimo-nos a trabalhar colaborativamente e não apenas à partilha de um espaço de trabalho – pelo que esse hábito deve ser treinado desde cedo.
No entanto, nestes movimentos de correntes e contracorrentes de modelos de aprendizagem, é possível que estejamos a navegar demasiado no sentido da colaboração e a esquecermo-nos de que o trabalho individual também tem os seus méritos. E não apenas isso, como também precisamos de ter em conta que os alunos não são todos iguais, e que, dependendo da sua personalidade, podem sentir-se melhor e expandir-se mais com diferentes modelos de trabalho. Quando se fala de trabalho em grupo vs. trabalho individual, um traço de personalidade que determina em grande medida como a pessoa vai lidar com os diferentes modelos é a extroversão/introversão. Quanto mais extrovertida – virada para os outros, motivada para socializar – melhor se irá sentir num contexto grupal; quanto menos extrovertida (ou mais introvertida) – virada para si mesma, motivada para se dedicar a atividades individuais – mais se irá ressentir de não poder trabalhar sozinha.
A escritora Susan Cain dedicou um livro a este tema, e resumiu as suas ideias na TED Talk abaixo. Ela clarifica que timidez e introversão não são a mesma coisa: “precisamos de perceber o que é a introversão. É diferente de ser tímido. A timidez é o medo do julgamento social. A introversão é mais sobre como responder à estimulação, incluindo estimulação social. Os extrovertidos precisam de muita estimulação, enquanto que os introvertidos se sentem mais vivos mais ligados e mais capazes quando estão em ambientes mais sossegados, mais recatados. Não sempre – as coisas não são absolutas – mas a maior parte do tempo. Então o truque para maximizarmos os nossos talentos é todos procurarem os espaços de estimulação mais adequados.”
A autora apresenta-se como uma introvertida confessa que passou grande parte da sua vida a lutar contra a sua própria natureza. E chama a atenção para como os modelos de trabalho mais promovidos e bem vistos hoje em dia, na educação e no contexto laboral, beneficiam mais um tipo de pessoa do que outro. E não apenas isso, como também beneficiam mais um tipo de tarefa do que outra. A escrita de um livro ou a conceção de ideias originais ganham com o input de outras pessoas, mas dependem claramente de um período de incubação, em que o autor precisa de se isolar e conversar a sós com o seu cérebro.
Em síntese, o apelo de Susan Cain é o de que se procure encontrar um equilíbrio entre o trabalho colaborativo e o trabalho individual. Que se dê lugar às crianças extrovertidas para brilharem, mas que também se dê espaço às introvertidas para se expandirem. E isso passa por combinar ambos os modelos de trabalho, adaptando-os, naturalmente, ao tipo de tarefa em questão. E sobretudo, não estigmatizar um tipo de personalidade e um modelo de trabalho específico. Ambos são válidos e valiosos. E em vez de opções mutuamente exclusivas, talvez possamos começar a encará-los como o que são: complementares e essenciais perante a complexidade dos nossos modelos de educação, laborais e de sociedade.